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"António Variações é uma figura poderosíssima. Deve ser conhecido, para sabermos que história é a nossa." Há colóquio em Lisboa, em dezembro

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Conhecer a história de António Variações e, com essa descoberta, desvendar também o que foi a História de Portugal entre as décadas de 1940 e 1980. É esta a proposta do colóquio sobre o icónico artista minhoto, que acontecerá a 5 e 6 de dezembro na Universidade Nova, em Lisboa. À BLITZ, Manuela Gonzaga, biógrafa de António Variações e dinamizadora do colóquio, explica por que razão é importante conhecer melhor a vida, as motivações e as façanhas da voz de ‘O Corpo é que Paga’, revelando ainda algumas das presenças confirmadas no encontro de dezembro, entre as quais Lena d’Água, Júlio Isidro ou Vitor Rua.

Intitulado “Variações em Torno de António”, o colóquio parte da premissa de que o trajeto de António Variações se cruza com a vida portuguesa daquelas décadas, em acentuada mutação.

“Dos anos 40 aos anos 80, há muita coisa que se passa, desde as dicotomias entre campo e cidade, a guerra colonial, o trabalho infantil, a imigração… tudo isso tem muito peso, e as pessoas [desconhecem]. Às vezes vou às escolas falar e dizem-me: ‘Ah, gosto muito do António Variações’, mas estão convencidos que ele ficou famoso porque apareceu com roupas esquisitas e foi à televisão, quando ele tem um trabalho enorme por trás”, defende Manuela Gonzaga.

“O António nasce, e faz-se a pulso. Este colóquio vai incidir sobre a História de Portugal, o Portugal onde ele nasceu e onde lutou para ser quem é. Porque até na guerra colonial o António conseguiu escapar aos teatros de guerra, [por conhecimentos de um irmão]mas esteve em Angola”, recorda.

António Variações

Warner Music

“Essa história tem de ser conhecida, e como eu tive o privilégio de me cruzar com ele, e também o privilégio, que começou por ser uma obrigação moral, de fazer a sua biografia, [decidi avançar]”, afirma a autora do livro “António Variações – Entre Braga e Nova Iorque”. “O António toca todas as classes, todo o género de pessoas. É uma figura poderosíssima, que ainda hoje não deixa ninguém indiferente. Deve ser conhecido e falado, pois temos de saber que história é, também, a nossa.”

Confirmados neste colóquio estão Lena d’Água, Júlio Isidro, David Ferreira, o ator e cenógrafo Fernando Heitor e também o encenador e dramaturgo André Murraças, que “era muito pequenino no tempo do António Variações, mas tem trabalhado muito na área da sexualidade. Mas não foi por isso que o convidámos”, justifica Manuela Gonzaga. “É porque, há oito anos, fez uma instalação incrível sobre o António Variações em Braço de Prata, Lisboa. Foi aí que nos conhecemos.”

Nessa instalação, André Murraças, que é também dramaturgo e intérprete, apresentou a ideia de que António Variações era “um sistema de vasos não comunicantes. Estava em todos os palcos da sociedade, mas era estanque: os amigos não se conheciam entre si, os amigos não conheciam a família… é um personagem muito interessante.”

Lena d’Água

Rita Carmo

A fotógrafa e agente de Variações, Teresa Couto Pinto, autora de imagens emblemáticas de António Variações, o músico Vítor Rua e o escritor e poeta Luís Filipe Sarmento juntam-se, também, ao colóquio, a par de Carlos Scarlatty (Guida Scarlatty), nome importante do transformismo em Portugal, Rudolfo Pimentel (Rudy Rubi, amigo e inspiração de uma das canções que Variações nunca gravou) e Jaime Ribeiro, um dos irmãos do homenageado que tem gerido o seu legado.

Na comissão científica do colóquio figuram, além de Manuela Gonzaga, as professoras Raquel Cardeira Varela e Maria Fernanda Rollo e os professores Carlos Alberto Poiares, António Fernando Cascais e Carlos Vargas.

O colóquio, que aceita propostas de trabalhos (artigos até cinco mil palavras, em português, inglês ou espanhol, com resumos entre 300 e 500 palavras) para o mail [email protected], encerrará com uma peça de teatro de Ricardo Mesquita de Oliveira, com encenação de Beto Valles, na reitoria da Universidade Nova.

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