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Visão da ElectionLine do Exterior: Patrícia Vasconcellos, do Brasil, diz que reportar sobre violência política na América Latina a ajudou a manter a calma quando Trump foi baleado

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Bem-vindos à série A View From Abroad da ElectionLine, na qual falamos com figuras da mídia que não são dos Estados Unidos, mas que acompanham de perto a política. A cada poucas semanas, esses observadores inteligentes fornecem uma perspectiva única sobre a campanha tensa e imprevisível para a Casa Branca. Esta semana, nossa entrevista é com Patrícia Vasconcellos, correspondente da Casa Branca para o SBT, uma das maiores redes de TV aberta do Brasil.

Enquanto os tiros ecoavam perto de Butler, Pensilvânia, Patrícia Vasconcellos estava pronta. A jornalista brasileira, que está estacionada nos EUA há anos, estava trabalhando naquele sábado de julho e foi ao vivo logo após Donald Trump escapar do palco do comício com um ferimento na orelha, mas, mais importante, com a vida.

Vasconcellos transmitiu as notícias para os telespectadores do SBT, a rede de TV aberta brasileira que alcança incríveis 90 milhões de pessoas todos os dias. Ela é uma mão experiente na televisão, tendo começado como âncora de TV na tenra idade de 22 anos antes de passar para a reportagem de linha de frente. Ela trabalha no SBT há quase 17 anos e foi contratada anteriormente pela Globo, a maior rede de transmissão do Brasil.

Esse aterramento a colocou em boa posição para uma história que causou ondas de choque na campanha eleitoral dos EUA. “Eu estava tranquila”, diz Vasconcellos, falando com o Deadline por uma chamada do Zoom de seu escritório em Washington DC. Ela já viu ataques a figuras públicas antes, tendo passado mais de meia década cobrindo política na América Latina. A violência política é uma “característica” da democracia na região, ela explica.

Vasconcellos aponta para o assassinato do candidato presidencial Fernando Villavicencio no Equador no ano passado, mas talvez o ataque mais ressonante tenha ocorrido em 2018, quando Jair Bolsonaro foi esfaqueado em seu caminho para se tornar presidente do Brasil. O candidato de extrema direita ficou em estado grave após o incidente, que está gravado na memória de Vasconcellos. “Para nós, brasileiros, que reportamos aqui [in America]naquele momento em que Trump levou um golpe na orelha, esse paralelo veio à mente”, ela diz.

A tentativa de assassinato de Trump mudou a trajetória de toda a eleição, argumenta Vasconcellos. Ela não acha que foi coincidência que Joe Biden tenha desistido da corrida pela Casa Branca poucos dias após o tiroteio, quando ficou claro que os eventos na Pensilvânia deram a Trump um novo ímpeto.

Ela diz que a corrida estava “praticamente morta”, com Biden liderando a chapa democrata e a entrada de Kamala Harris transformou a campanha em uma “disputa real” antes de 5 de novembro. “Ela tem uma chance de vencer”, argumenta Vasconcellos, apontando para os índices de aprovação “massivos” de Harris entre os eleitores jovens, embora ela reconheça que as pesquisas estão “extremamente acirradas”. Pesquisas eleitorais recentes dão a Harris uma pequena vantagem.

Vasconcellos, ex-membro do conselho da Association of Foreign Press Correspondents USA, diz que há “enorme interesse” em casa na eleição. O fascínio pela política e cultura americanas supera até mesmo o interesse pela Argentina, vizinha do Brasil e feroz rival no futebol.

Donald Trump e Jair Bolsonaro em 2019

Brasil e América têm muito em comum. Bolsonaro era conhecido como o “Trump dos Trópicos” e os paralelos entre os dois homens vão além de serem alvos de violência política. Após os tumultos no Capitólio em 6 de janeiro de 2021, o Brasil teve 8 de janeiro em 2023, quando uma multidão de apoiadores de Bolsonaro invadiu o Congresso. E enquanto Trump está concorrendo ao cargo novamente enquanto as rodas judiciais giram, Bolsonaro foi proibido de fazer campanha por oito anos após ser considerado culpado de abuso de poder por juízes eleitorais. Ele chamou o veredito de uma “facada nas costas”.

Batalhas ferozes pela liberdade de expressão também estão acontecendo no Brasil depois que o X, a plataforma de mídia social antes conhecida como Twitter, foi banida do país em uma disputa de desinformação. A Casa Branca pareceu ficar do lado de Elon Musk, com um porta-voz dizendo à colega de Vasconcellos, a jornalista da Globo Raquel Krähenbühl, que ter acesso ao site era uma forma de “liberdade de expressão”.

Vasconcellos não toma partido no debate, mas admite que ainda está usando X de sua estação em Washington. Ela está cautelosa com a ameaça de desinformação, no entanto. “Se for uma informação que não venha diretamente de alguém que trabalha para a campanha, ou que alguém não me disse diretamente, eu não escrevo”, explica a correspondente da Casa Branca.

Vasconcellos, como muitos de seus colegas na imprensa estrangeira, gostaria de ter maior acesso à administração Biden e acha que o pool é “protetor” contra pessoas de fora. “Precisamos ter oportunidades de realmente fazer perguntas porque eu realmente acredito que podemos contribuir, trazendo uma perspectiva diferente”, ela diz.

Uma oportunidade pode se apresentar esta semana quando o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, visitar Nova York para a Assembleia Geral das Nações Unidas. O meio ambiente e a tecnologia são áreas políticas-chave entre os EUA e o Brasil, e Vasconcellos acha que uma administração Harris será essencial para manter os canais políticos e diplomáticos abertos.

Vasconcellos diz que a cobertura de eventos nas últimas semanas tem sido “intensa”. Com outra aparente tentativa de assassinato de Trump, teorias da conspiração inflamadas e preocupações persistentes sobre futuras agitações civis, não há sinal de que o ritmo esteja prestes a diminuir. Vasconcellos estará cobrindo tudo isso para dezenas de milhões de brasileiros — e provavelmente com a cabeça fria.

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