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“Em Cabul, uma gata tem mais liberdades do que uma mulher”: Meryl Streep pede mais ação contra “lento sufoco” de mulheres no Afeganistão

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Líderes de todo o mundo estão reunidos esta semana na Assembleia Geral das Nações Unidas e uma veterana dos holofotes aproveitou a ocasião para chamar a atenção para a perda de direitos das mulheres no Afeganistão. A atriz Meryl Streep pediu que a comunidade internacional interviesse contra o regime talibã no país, lamentando o facto de animais domésticos terem mais direitos para andar na rua do que as mulheres afegãs.

“Hoje, em Cabul, uma gata tem mais liberdade do que uma mulher. Uma gata pode sentar-se no seu alpendre e sentir o sol na cara, pode tentar apanhar um esquilo no parque. O esquilo tem mais direitos que uma rapariga no Afeganistão, porque os parques públicos foram barrados pelos talibã a mulheres e raparigas”, afirmou Streep, num evento na segunda-feira na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, para alertar para a realidade no Afeganistão.

Streep acrescentou que “um pássaro pode cantar em Cabul, mas uma rapariga não o pode fazer em público”, criticando a “supressão” das vozes femininas e pedindo mais ação à Organização das Nações Unidas, para que ponha fim ao “lento sufoco” das mulheres afegãs.

António Guterres, presente no mesmo evento, garantiu à BBC que a legitimidade do governo talibã nunca será reconhecida enquanto não permitir o acesso à educação da sua população feminina. “Sem mulheres educadas, sem mulheres empregadas, incluindo em cargos de liderança, e sem reconhecer os direitos e liberdades de metade da sua população, o Afeganistão nunca terá o seu devido lugar no palco mundial”, avisou o secretário-geral da ONU.

Os comentários da atriz surgiram depois de, no mês passado, o governo talibã do Afeganistão ter apertado ainda mais as suas “leis morais”, que limitam gravemente a liberdade das mulheres no país. Segundo as medidas aprovadas, as vozes femininas já não podem ser ouvidas em público, seja na rua ou em órgãos de comunicação, e as mulheres ficam também proibidas de olhar diretamente para homens que não sejam seus familiares.

Desde que os talibã recuperaram o controlo do Afeganistão em 2021, com a saída das forças ocidentais do país, o governo tem imposto uma sociedade muito conservadora, segundo uma visão mais extremista e ortodoxa do Islão e da lei sharia. As mulheres, que durante a presença das forças lideradas pelos Estados Unidos, tiveram um maior acesso a emprego, saúde e educação, são forçadas agora a viver sob medidas muito restritivas, com o incumprimento a resultar frequentemente na morte.

OMER ABRAR – Getty Images

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Atualmente, as mulheres não podem sair à rua sem a permissão de maridos ou membros masculinos da família, e não o podem fazer sem estarem completamente cobertas. As escolas, ginásios, parques e clubes desportivos para mulheres foram encerrados, e são poucos os empregos a que podem aceder.

O governo do Afeganistão nega, contudo, que a sua legislação desrespeite os direitos das mulheres e raparigas do país. À BBCem resposta às declarações de Meryl Streep, um porta-voz talibã disse que as mulheres são “altamente respeitadas”.

“Respeitamo-las muito nos seus papeis como mães, irmãs e mulheres. Elas são uma parte essencial da família e da sociedade, mas nunca as comparamos a gatos”, vincou Suhail Shaheen, líder político dos talibã, vincando que várias mulheres continuam a trabalhar em serviços públicos no Afeganistão – não referindo, contudo, que muitas o fazem porque não existem homens formados para ocupar os seus lugares.

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