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Transição energética, a quanto obrigas?

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Entrou em vigor mais um descongelamento (o terceiro em 30 dias) da taxa de carbono, atualizando essa taxa para 81 euros por tonelada. Aos poucos e poucos, esta transição energética está a tornar a vida de tantas famílias cada vez mais complicada, ao tornar a energia a que têm real acesso cada vez mais cara. Sim, cada vez mais cara.

Pensemos por exemplo em todas as famílias portuguesas que vivem fora dos centros urbanos e que não têm acesso ao gás natural (GN), atualmente a fonte de energia doméstica mais económica (excetuando a geração própria solar). Essas famílias, que são a maioria em Portugal, utilizam a eletricidade, a biomassa, e o gás de petróleo liquefeito (GPL) pois não têm acesso à infraestrutura do GN. O consumo nacional de GPL do setor doméstico, em 2022 (dados mais recentes da DGEG), foi de 311.297 TEP (toneladas equivalentes de petróleo). O mesmo consumo de GN foi de 267.919 TEP.

Como se vê, o GN só representa 46% do consumo de combustíveis gasosos no setor doméstico e o GPL os restantes 54%. Mesmo após mais de 25 anos de GN em Portugal, este ainda não conseguiu destronar o GPL no setor doméstico, o que demonstra que as transições energéticas dependem da capilarização das infraestruturas e isso leva muito tempo.

Podem estes consumidores mudar para a eletricidade? Poder, podem. Mas a que custo? Quanto custará a cada família alterar a sua instalação elétrica para reforçar o seu quadro elétrico com uma cablagem de 6 a 7 kW para uma placa de indução, outra de 4 kW para o forno elétrico, outra igual para o termoacumulador? Ou ainda quanto lhes custará comprar uma caríssima bomba de calor? E quando/como é que as redes elétricas rurais vão poder suportar todo esse gigante reforço de potência, cujo custo, obviamente, essa família pagará?

E imaginem ainda como é que milhares de famílias poderiam suportar a substituição do aquecimento com biomassa que, no mesmo ano de 2022, representou um consumo de 781.218 TEP? Sim, estes números não estão errados. O peso da biomassa no segmento doméstico é enorme, e ultrapassa metade do da eletricidade, de 1.366.799 TEP. E ainda lhes pedem para comprarem veículos elétricos, que são mais caros e exigem, pelo menos, mais uns 4 kW na sua frágil instalação elétrica!

Este novo descongelamento da atualização da taxa de carbono, para 81 euros por tonelada, vai conduzir a que tantas e tantas famílias pobres do interior, cujas vidas dependem do GPL (o butano/garrafa ou propano/canalizado), passem a pagar, só de taxa de CO2, o valor de 22,47 euros por MWh (megawatt hora) e ainda fica a faltar o valor do ISP, que, também este, é maior que o aplicável ao GN!

E temos também já um milhão de famílias com a tarifa social para a eletricidade e para o gás natural. O que dizer a essas famílias do interior que não podem ter acesso a esse apoio no gás canalizado, ou àquelas em que esse apoio por via da “bilha solidária” se vai anulando?

É uma dupla e gravíssima injustiça estas famílias terem de pagar bem mais que as das cidades, resultado desta desleal, injusta e socialmente insensível transição energética.

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