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“O capitalismo aprendeu a agredir por simpatia”: entrevista com a realizadora portuguesa Laura Carreira

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Contou que “On Falling” é um filme parcialmente autobiográfico. Em que medida?

“On Falling” é uma mistura de experiências muito específicas que também se relacionam seguramente com a minha ida para a Escócia, quando me mudei para lá, aos 18 anos. A Aurora tem várias coisas de mim, da minha experiência de imigrante e dos meus primeiros empregos na Escócia enquanto estava a estudar. Na altura acreditei que podia ser independente a nível financeiro — e não funcionou. Para “On Falling”, entrevistei muitos catadores que fazem o trabalho que a Aurora faz. Essas conversas foram determinantes para apurar muitos detalhes que depois acabaram por ficar no argumento.

A vida de Aurora oscila entre o armazém e o apartamento partilhado, dois espaços específicos que vamos conhecer. O refeitório do armazém, por exemplo, fez-me pensar imenso nos refeitórios de prisões que nos habituámos a ver no cinema, salvo que a ‘prisão’ do seu filme não tem grades. Gostava de saber como é que a alternância destes espaços contribuiu para a construção dramática.

Antes de mais, este filme é uma consequência das minhas curtas-metragens, em que já tinha abordado a vulnerabilidade financeira e uma relação contemporânea com o trabalho. Na pesquisa que fiz sobre os trabalhadores que fazem escolhendoprocurei descobrir como funciona a rotina, como se organiza o tempo no local de trabalho e foi em torno destes aspetos, dessa rotina, que o filme ganhou forma. A realidade do dia-a-dia ditou a criação da narrativa.

Aliás, posso dizer-lhe que na altura em que estava a escrever o argumento, tinha um calendário com a semana da Aurora. Os dias de trabalho, que são quase todos, marcados um por um, e os dias de pausa. Eu queria muito filmar o trabalho. Mesmo aquele, tal como ele é, repetitivo. E construí-lo dramaticamente, numa relação com o tempo. Há cenas no filme em que vemos a personagem a trabalhar durante um minuto e meio – na vida real esse minuto e meio corresponde a uma rotina de dez horas de exaustão, com pausas para almoço e lanche de trinta minutos.

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