Antes da reunião, o Presidente da República tentou tirar pressão, dizendo que o encontro de hoje dos conselheiros não seria para discutir a negociação do Orçamento do Estado (OE). “Não tem diretamente nada a ver”, disse Marcelo Rebelo de Sousa, no Seixal, ao início da tarde, à margem da inauguração do Espaço Memória – Centro de Arquivo, Documentação e Audiovisual da CGTP-IN.
Marcelo lembrou que tinha anunciado esta reunião ainda antes do verão e que a ideia é “analisar a situação económica política, mundial, europeia e portuguesa” para fazer uma “reflexão sobre a situação do mundo”. E no comunicado final, lá está a frase que nada mais diz: “O Conselho de Estado analisou a situação internacional e nacional.”
A análise, contudo, serviu para vários conselheiros fazerem apelos a entendimentos nacionais num cenário de cada vez maior instabilidade internacional. As intervenções foram-se sucedendo, com mais ou menos achegas internas. E, no fim da reunião, apesar do que tinha dito antes, o Presidente acabou a fazer um discurso de apelo ao entendimento, o que implica cedências de parte a parte, até porque fez questão de sublinhar o óbvio ululante há um par de dias, quando disse que o Governo da AD é “minoritário” e que o PS “não é Governo”.
Se há poucos dias o Presidente estava “fisgado” que o Orçamento do Estado, não terá saído do encontro com melhores perspetivas. Marcelo não quer ser o primeiro Chefe de Estado a dissolver o Parlamento três vezes, quando já tinha sido o primeiro a fazê-lo na sequência do chumbo inédito de um Orçamento, em 2021. Mas com os dados lançados esta terça-feira sobre a sua mesa não tem elementos para jurar que tudo vai correr como deseja.
Sem o ex-Presidente António Ramalho Eanes presente, a reunião começou pelas 17h10 e, pela duração que teve (o comunicado saiu já depois das 21h30), as intervenções foram longas num grupo de conselheiros maioritariamente de direita e em que Pedro Nuno Santos e Carlos César são os únicos nomes publicamente de esquerda.
Cavaco Silva, que tem feito sucessivas intervenções públicas, inclusive dizendo que não viria mal ao mundo governar em duodécimos, centrou-se não no Orçamento mas em questões económicas, tendo por subjacente a ideia de que o Governo precisa de tempo para as resolver.
A Presidência da República emitiu o tradicional e seco comunicado, que além de dizer que o Conselho de Estado “analisou a situação internacional e nacional”, exprime solidariedade com as vítimas dos incêndios de setembro. O Conselho de Estado. “formulou um voto de profundo pesar pelos trágicos incêndios ocorridos no nosso paísem especial nas regiões Centro e Norte” evocando “respeitosamente as vítimas mortais e suas famílias, bem como manifestando a solidariedade às populações afetadas e a todos os que combateram os incêndios”.
Encerrado este Conselho de Estado que Marcelo queria mais “internacional”, haverá outro, ainda sem data marcada, mas já anunciado, lá mais para o fim do mês. Depois de o OE ter sido entregue no Parlamento e de o Presidente receber todos os partidos. Ou seja, já com uma perspetiva mais próxima da possibilidade ou não de haver Orçamento aprovado.