Outubro: as árvores despem-se e os partidos também. Neste Outono, não são só folhas que podem cair, mas o governo.
Pedro Nuno Santos garantiu que prefere perder eleições a defender as suas convicções, do que abdicar com medo de as perder. O que é engraçado, porque, não há muito tempo, perdeu eleições após uma campanha em que precisamente apresentou a versão mais diluída dos seus ideais.
Desta feita, o secretário-geral do PS quer mesmo andar à porrada, o que reforça o problema que o Partido Socialista tem com a masculinidade tóxica. Esta semana, o PS elegeu os 19 líderes das federações e não há uma mulher. Por isso é que existe, dentro do partido, o grupo Mulheres Socialistas: assim elas têm um gabinete onde podem definir a posição ideológica do partido sobre maquilhagem, novidades da Zara e pequenos eletrodomésticos. Em cargos de liderança? Não vale a pena. Em órgãos importantes do PS, o órgão é sempre igual.
Por seu turno, Luís Montenegro parece não ter nada a perder. O primeiro-ministro considera que o caderno de encargos que o PS impõe para viabilizar o orçamento é “radical”. Ora, tendo em conta que a renúncia ao IRS Jovem é uma medida amplamente criticada por moderados, parece-me fita. Neste momento, o presidente do PSD está a agir como eu quando entro num stand da Porsche: finge que está interessado em negociar.
Marcelo Rebelo de Sousa, desta vez, prefere não dissolver. Acedeu aos pedidos de Pedro Nuno Santos, que em Agosto pedira para pararem de “chatear o PS”, mas virou-se para Montenegro, implorando-lhe “flexibilidade”. Percebe-se a necessidade presidencial de salvar a legislatura: se Marcelo voltar a enviar o país para eleições, ficará eternamente conhecido como o Dissolvente da República.
É inegável que já se vive um clima de insinuação, de teasing. AD e PS, dia após dia, vão perdendo a timidez, ficando em trajes menores, para que os portugueses desejem ardentemente eleições. Há, no entanto, um certo pudor em assumir que se quer um novo ato, semelhante ao que sente o membro de um casal que pretende sugerir uma relação aberta. Neste caso, porque sabem que vamos ficar ofendidos, os partidos estão a adiar dizer-nos que querem que voltemos a ir ao clube de swing. Um bacanal de vez em quando, tudo bem. Todos os anos? É libertinagem. Isto já não é alternância, é alterne.