Euval Noah Harari é um daqueles raros académicos que em poucos anos se convertem numa indústria. Na sequência do êxito extraordinário dos seus best-sellers “Sapiens” (25 milhões de exemplares vendidos) e “Homo Deus”, este historiador israelita passou a viajar pelo mundo, dando conferências e convivendo com figuras importantes do mundo económico, político e do pensamento. Um produto desse novo estatuto foi a criação de uma organização, a Sapienship (perceberam?), que se propõe “clarificar a conversação global” sobre a disrupção tecnológica, a catástrofe ecológica e a guerra global. Questões grandes, sem dúvida. Outra função da organização, obviamente, é permitir a Harari continuar o seu percurso como um dos intelectuais mais públicos do mundo, não só estabelecendo e alimentando conexões como fornecendo material para alimentar as obras que ele tem de ir publicando a espaços mais ou menos regulares para se manter relevante. Na última dessas obras, “Nexus — História Breve das Redes de Informação da Idade da Pedra à Inteligência Artificial”, que acaba de ser editada em Portugal pela Elsinore, Harari agradece aos membros da Sapienship todo o trabalho de pesquisa que deram ao livro, o que é mais decente que o que às vezes fazem outros nomes conhecidos — historiadores e não só —, que escrevem tomos enormes num prazo implausivelmente curto, subsumindo as colaborações alheias numa lista de agradecimentos sem explicar minimamente o que devem a quem.
