Luís Montenegro não está só a brincar com o fogo; está a tentar domá-lo e usá-lo como último recurso político. Quando um primeiro-ministro começa a evocar “interesses ocultos” por trás dos incêndios florestais, já se vê claramente o fumo do desespero. É o velho truque de quem sabe que a narrativa está a escapar-lhe: criar um inimigo invisível, um vilão que ele — e só ele — tem a coragem de enfrentar. Mas, como sempre, o espantalho que Montenegro ergueu já começou a desfazer-se. Porque esta tentativa de parecer um líder implacável e incómodo não é uma jogada de força; é uma fuga desajeitada para a frente.
