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A África do Sul tem um novo diplomata de ponta. O que isso significa para a Palestina?

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Pretória, África do Sul – Quando a África do Sul levou um caso contra Israel ao Tribunal Internacional de Justiça (CIJ) no final do ano passado, seu Ministério das Relações Exteriores liderou a acusação.

A então ministra das Relações Internacionais e Cooperação, Naledi Pandor, sentou-se com advogados e especialistas em Haia em janeiro enquanto o CIJ anunciava medidas provisórias no caso que acusava Israel de cometer genocídio em sua guerra em Gaza.

“Não podíamos ficar de braços cruzados e continuar a observar o assassinato de milhares de cidadãos palestinos que não tiveram nenhum papel no terrível ato de tomada de reféns e assassinato”, disse Pandor aos repórteres na época, explicando a decisão de recorrer ao Tribunal Mundial.

A veterana ministra de 70 anos pediu aos juízes que fizessem Israel “acabar com o enorme nível de danos” contra civis em Gaza, e tem sido firme no compromisso de seu país de defender os direitos dos palestinos.

Agora, após uma eleição nacional histórica em maio que mudou a governança do país, a África do Sul tem um novo diplomata de alto escalão. Mas sua política externa mudará? “Não”, disse um enfático Ronald Lamola em uma entrevista à Al Jazeera.

O homem de 40 anos, que tomou posse como ministro das Relações Exteriores neste mês, disse que não será influenciado por nenhuma potência global ao conduzir a diplomacia internacional do país.

“Não devemos ser intimidados por ninguém. Devemos ser capazes de mediar conflitos e defender os direitos humanos sem pressão externa”, disse ele.

Lamola assume o papel em um momento crítico. Enquanto a nação lidera esforços globais para responsabilizar Israel por suas ações em Gaza, ela também está enfrentando conflitos em andamento no continente africano.

Lamola durante a cerimônia de posse dos novos membros executivos nacionais em 3 de julho de 2024, na Cidade do Cabo, África do Sul [Misha Jordaan/Gallo Images via Getty Images]

A nomeação de Lamola segue a aposentadoria de Pandor e a formação de um governo de unidade nacional (GNU) no país no mês passado. Isso ocorreu depois que o Congresso Nacional Africano (ANC) de centro-esquerda – que liderou o país por 30 anos – perdeu sua maioria parlamentar nas eleições pela primeira vez e foi forçado a formar uma coalizão para continuar a liderar.

Lamola, assim como Pandor, faz parte do CNA. Anteriormente ministro da justiça da África do Sul, ele está entre os líderes seniores do partido e um dos ministros de gabinete mais confiáveis ​​do presidente Cyril Ramaphosa.

Embora o CNA tenha conseguido manter o Ministério das Relações Exteriores durante as negociações da coalizão, agora ele precisará chegar a um consenso com outros partidos antes que grandes decisões possam ser tomadas — algumas com ideologias amplamente divergentes.

A Aliança Democrática de centro-direita, o segundo maior partido da coalizão, por exemplo, permaneceu neutra em relação à guerra de Israel em Gaza, enquanto outro parceiro da coalizão, a Aliança Patriótica populista de direita, afirmou seu apoio ao estado israelense.

O princípio de não alinhamento da África do Sul em conflitos globais permanece firme, afirmou Lamola, dizendo que a política externa do país não vacilará, apesar do governo de coalizão.

No GNU, o acordo de coalizão enfatiza uma política externa enraizada nos direitos humanos, no constitucionalismo, no interesse nacional e no multilateralismo, acrescentou.

Estilo diferente, mesma substância

Como principal diplomata, Pandor era conhecida por sua forte postura contra Israel e sua firme abordagem diplomática.

A ministra das Relações Exteriores da África do Sul, Naledi Pandor, e o embaixador da África do Sul na Holanda, Vusimuzi Madonsela, falam no dia em que a Corte Internacional de Justiça (CIJ) decide sobre medidas de emergência contra Israel após acusações da África do Sul de que a operação militar israelense em Gaza é um genocídio liderado pelo Estado, em Haia, Holanda, 26 de janeiro de 2024. REUTERS/Piroschka van de Wouw
Ex-ministro das Relações Exteriores da África do Sul, Naledi Pandor, à esquerda, no TIJ em Haia [File: Piroschka van de Wouw/Reuters]

Agora, o país está se preparando para a próxima fase de seu esforço para responsabilizar Israel no ICJ. O tribunal ouvirá argumentos sobre os méritos do caso de genocídio contra Israel, já considerado responsável pelo apartheid em um caso separado.

“A África do Sul continuará a advogar para responsabilizar Israel e os indivíduos responsáveis ​​pelo genocídio. Saudamos o processo em andamento liderado pelo promotor do TPI”, disse Lamola.

Durante as audiências iniciais em janeiro, quando era ministro da Justiça, ele disse ao Tribunal Mundial que a violência na Palestina e em Israel não começou em 7 de outubro de 2023.

De acordo com a analista de política externa Sanusha Naidu, Lamola provavelmente manterá a posição assertiva da África do Sul em relação à Palestina, refletindo a abordagem de seu antecessor Pandor.

“Tudo faz parte da estrutura mais ampla da política externa da África do Sul, conforme articulada pelo CNA e pelo presidente”, disse ela.

Apesar da idade e da novidade no cargo, Lamola não é estranho às batalhas políticas.

Durante o mandato do ex-presidente Jacob Zuma, em meio a inúmeras alegações de corrupção, Lamola foi a única voz exigindo a remoção de Zuma, uma postura que muitos consideraram suicídio político.

“Ele é muito jovem, mas é visto como Ramaphosa o nomeando como alguém em quem ele pode confiar no cenário internacional”, disse Naidu à Al Jazeera.

Ela disse que Lamola pode impor um estilo diferente do seu antecessor, Pandor, nos fóruns globais, mas o posicionamento do país permanecerá consistente.

Naidu observou que, embora seja improvável que a política externa da África do Sul mude, acontecimentos globais, como as próximas eleições nos Estados Unidos em novembro, impactarão significativamente a geopolítica e terão implicações profundas para a África do Sul.

conflitos africanos

Para Lamola, sua prioridade imediata é abordar questões dentro do continente africano.

Ele expressou comprometimento com a iniciativa da União Africana (UA) de “silenciar as armas” e alcançar um continente livre de conflitos até 2030, embora o Comitê Internacional de Resgate (IRC) alerte sobre o aumento de conflitos, golpes e pobreza em toda a África, com o número de grupos armados mais que dobrando na última década.

A África do Sul pretende mediar o conflito no Sudão, com o presidente Ramaphosa envolvendo ambos os lados em conflito para intermediar a paz.

“O Sudão é uma grande preocupação para a UA e foi uma questão-chave em minhas discussões com os colegas da Nigéria e do Egito. Reunir todas as partes em guerra para o diálogo é essencial para uma solução duradoura”, enfatizou Lamola.

O IRC relata que mais de 11 milhões de pessoas estão deslocadas internamente no Sudão, marcando a maior crise de deslocamento interno do mundo.

Elizabeth Sidiropoulos, chefe do think tank South African Institute of International Affairs, destacou o interesse da África do Sul em conflitos em todo o continente, particularmente na África Austral e na região dos Grandes Lagos.

“O principal desafio para o ministro será utilizar efetivamente nossos recursos limitados tanto na defesa quanto na mediação diplomática para conflitos cruciais em nosso continente”, disse ela.

Diplomacia econômica

Lamola também enfatizou seu comprometimento com a diplomacia econômica, defendendo condições favoráveis ​​de empréstimos para países africanos.

Isso ocorre em meio a protestos em massa no Quênia contra empréstimos com juros altos do Fundo Monetário Internacional (FMI) e outros credores ocidentais, que muitos acreditam ter agravado as dificuldades econômicas no país.

Durante anos, credores multilaterais, especialmente o FMI, enfrentaram críticas na África por impor condições de empréstimo rigorosas que afetam desproporcionalmente os pobres.

Lamola planeja alavancar a posição global da África do Sul, incluindo sua próxima presidência do G20, para garantir financiamento favorável para projetos de desenvolvimento africanos.

“Defendemos condições de financiamento que apoiem o desenvolvimento sem prejudicar a soberania”, explicou.

Lamola também enfatizou a importância de abordar as mudanças climáticas sem comprometer o desenvolvimento africano.

“Nossa transição deve ser justa e inclusiva”, disse ele.

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